domingo, dezembro 26, 2004

diário

Estou farta de fazer de conta que sou interessante. Decidi que é chegada a hora de me pôr a nu, até porque ninguém lê isto para além de mim própria. Também estou em fase de avaliação, não só porque o ano está a chegar ao fim o que propicia, mas também porque estou quase nos trinta e sem grandes feitos no currículo. De facto, não me imaginava aqui, neste ponto da vida. Estou a viver no Algarve, quando queria estar no Porto. Mas nem sei bem porquê. Até sei. No Porto deixei aquilo que acredito ser a minha verdadeira vida. Mas um pensamento insiste: se era aqui (no Porto) que tinha tudo porque fugi?
Sendo essa pergunta demasiado complexa para responder, tenho andado a fazer outras. Como por exemplo, o que gosto? E aí foi com surpresa que percebi que até sei bem o que gosto. Bem demais, pois chego a ser snob em relação às "tristes" preferências dos outros, especialmente tendo consciência que as pessoas que me rodeiam pesentemente são até bastante vulgares. Não que isso seja mau, mas é aborrecido. Hoje fiz uma lista de filmes que gosto. Não estão lá todos, até porque, não sendo cinéfila, adoro o ritual de ir ao cinema e embrenhar-me numa história que não é a minha e, por isso, emocionante sem perigos. O mesmo acontece-me com livros e música. A lista está no IBDM international. Já lá tenho mais de 50 filmes. É bom. Também reorganizei a minha colecção de cd's, por ordem alfabética. Pensei fazê-lo por ordem auto-biográfica, como a personagem principal do "High Fidelity", mas não achei que conseguisse. Tenho memória curta. E depois a cada cd posso associar outras memórias ainda nem sempre fáceis. Isto de tentar viver sem passado é difícil.
Quanto a roupas ainda ando em mudanças e já percebi que o hei-de fazer muitas vezes. Sem stress associado. Cores não há dúvidas: vermelho, acima de todas, e seus derivados.
Gostaria de viajar mas sinto-me presa, pois não gosto de o fazer sózinha.
Estive a ler vários blogs aqui alojados, para concluir que a maioria das alminhas que por aqui andam têm um de dois intuitos: narcisismo total ou medo de serem esquecidas. A maior parte tem mesmo os dois. Claro que a maioria são diários pessoais e pouco interessantes, mas alguns têm um pouco mais de ambição.
Estou triste comigo, pois no Algarve sinto ser outra pessoa, mais livre e independente, e aqui, em casa dos meus pais e com amigos, mais interessantes mas decadentes, perco as asas e sinto-me moribunda.
É claro que não estou a referir a principal causa desta sensação, mas isso é assunto para outro dia. Um assunto bem longo, por sinal.
Para já quero desejar, por esta pequena janela, a todo o Mundo, a continuação de um bom dia, independentemente da época que estamos a viver. Que cada um saiba tirar o melhor partido do que o rodeia. Talvez novas surpresas espreitem aqueles que morrem de tédio (como eu) e talvez tudo acalme após a tempestade. Seja como for, nada dura para sempre.
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