Histórias da terra e do mar
Sabes? o meu amor é uma pessoa especial.
Percorreu um longo caminho até eu o conhecer e fez-se devagarinho e com esmero. Camada após camada, depositou-se cada partícula do seu ser. O meu amor aprendeu muito e é agora um ser pleno de sabedoria metamorfizada.
Domina várias artes e conhece bem as pessoas. Sabe que tudo tem o seu tempo e que há coisas que demoram bem mais que uma vida humana. No entanto, o meu amor perdeu algo precioso pelo caminho - a capacidade de acreditar no amor. Eu sei que ele já teve esta espécie de fé, mas perdeu-a, ou foi-lhe violentamente arrancada.
Por ele eu sou as ondas que batem, uma e outra vez, numa arriba costeira, tentando derrubar e soltar fragmentos de rocha, tentando levar, até àquele idílico recanto, alguma areia e formar (quem sabe? talvez um dia...) uma praia.
É que sabes? O meu amor nunca me disse uma palavra bonita, nunca me sussurrou ao ouvido o que sentia por mim. De vez em quando ele deixa que uma gaivota pouse num dos seus galhos secos, que a espuma de uma das minhas ondas roce ao de leve a sua rocha, e que a humidade que transporto lhe dê reflexos mais vivos. Mas só.
No outro dia percebi que se preocupou quando a maré não acompanhou a fase da lua, mas é tudo. Sabes, por acaso, como poderei fazer com que ele acredite na felicidade que o amor encerra? Dizer-lhe muitas vezes que o amo, sugeres tu? Mas acaso não o digo já. Em todas as minhas ondas, em todo o percurso que elas fazem, a todos os barcos que cruzam as minhas águas, Todos sabem e todos me perguntam: Como está o teu amor?
Todos sabem que cada tempestade que me assola corresponde a um momento de desespero meu por conseguir tão pouco dele e que cada raio de sol se refere a um qualquer gesto dele que eu interpretei como um sinal de amor para comigo.
De qualquer forma toda a gente sabe que só encontro serenidade quando ele deixa que alguma água das minhas ondas fique presa nas reentrâncias das suas rochas no vazar da maré. Aí aqueço um pouco e sinto que também ele fica mais doce. É uma espécie de abraço, não percebes?
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home