quinta-feira, fevereiro 22, 2007

audrey kawasaki


Porque foi por ti que a conheci.

sorriso


Porque hoje me sinto bem comigo, com todos, com tudo. Muito bem mesmo.

Porque ouço apenas o que está certo e é bom.

Porque vejo cor quando há infravermelhos apenas.

Porque oiço o mar no silêncio e porque sinto a suavidade de algodão em cada toque.

Como se tivesse uma brisa refrescante e suave e algo me dissesse que tudo iria ficar melhor ainda.

Como se pressentisse o que se segue e o que quer que seja será bom.

Bem agora porque bem depois. Alguém compreende?

Porque um sorriso me nasceu na cova central do meu lábio inferior, de lá subiu perfazendo a curva até ao canto da boca, e aí, aí esta se encaracolou e fez um ninho. Ainda é pequenino, mas tem um travo doce quando lhe toco com a língua e é de onde o meu sorriso é transportado, em voo ascendente, até aos meus olhos, que brilham e brilham.

E foi a música que me enlevou, ela e a vontade de te ter aqui. Vens a caminho e eu descompasso. Oh coração exigente! Sorri sorri!

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Sábado à noite - 20 horas


Depois de uma matinée de sábado no centro da cidade, num dos poucos cinemas onde ainda não somos invadidos pelas pipocas, desloquei-me a pé pelas ruas, vagueando. O filme deixou-me num estado de contemplação pouco usual, um estado de alerta misturado com algo de etéreo.
Assim, fui andando embrulhada em noite, sem pousar bem os pés no solo, mas de olhar atento e que se enlaçava facilmente nos mais distintos pormenores. Tudo passava por mim tão devagar, tão lentamente que eu nem conseguia aperceber-me bem se era eu quem se deslocava ou todo o mundo no seu desenrolante movimento de rotação. Os meus olhos paravam em todas as letras miúdas dos autocolantes colados nos candeeiros de rua, nos anos de existência dos ilustres mortais que davam nome às ruas por onde passava, nas pequenas animações das caixas de multibanco que emitiam uma luz tremelicante. E, ao mesmo tempo, os meus olhos enredavam-se nos olhos dos outros que passavam, e fixavam-se até que eles os desviassem da insistência dos meus. Via também os mais ínfimos detalhes, o cordão do sapato apertado em volta do tornozelo (como já não se usa em lado nenhum!), a cor do verniz das unhas de uma adolescente, o mimo que mudou de posição à beira do semáforo da rotunda e o sorriso incomodado da senhora que aí parou por ter caído o sinal vermelho.
Ia tão devagar que tentava, me forçava a, andar mais depressa. Mas algo me impossibilitava esse estugar de passo. O meu coração, a minha alma, estava noutro ritmo. Depois olhei para a minha mão e vi o brilho do meu relógio que espreitava debaixo da manga e era como se não fosse eu. Olhei para ele com o mesmo vagar, com a mesma intensidade que olhei os outros e as coisas à minha volta. E também ele parecia ir a passar por mim.Deixei-o ir. Devagar.
A lentidão do mundo seria da hora, essa que quase não há ninguém nas ruas, mas em qe se sabe que todos estão acordados e activos? Essa hora tão diferente da madrugada em que ninguém parece sequer existir, mas em que as pessoas pertencem a um outro mundo, como se estivessem atrás de um vidro fosco à prova de som. Sabe-se que estão lá mas... Ou seria que essa lentidão era um estado de espírito provocado por um filme que ainda agora havia visionado, mergulhado? Ou seria que era apenas eu, tudo o que eu era?
Segui assim quando entrei no metro e segui assim toda a viagem até à estação de chegada. Segui assim até rodar a chave de casa e saber que tinha lá os meus pais à espera e que teria de intergir e sair daquele suave torpor. Disse "olá! cheguei." E depois esqueci.
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