domingo, fevereiro 22, 2009

duas histórias
























Há muito muito tempo atrás, no Japão, existiam dois casais, já de uma certa idade e sem filhos. O primeiro era composto por um marido austero e uma esposa obediente. Assim, quando ele mandava, mesmo na presença de convidados, a esposa acorria a cumprir os seus desejos.

O segundo casal era formado por um marido silencioso e uma esposa compreensiva. Sem que nada o fizesse perceber a esposa sabia sempre o que o seu marido desejava e antecipava todos os seus desejos, realizando-os.

Um dia, a esposa do primeiro casal saiu da sala deixando o marido em convulsões, até este exalar o último suspiro. Nesse mesmo dia, a segunda esposa não deixou o marido vestir o pijama, mas explicou-lhe que teria de vestir o seu fato de cerimónia para se deitar. Ele assim fez, sem questionar, conhecendo como conhecia a sua esposa. Esta fez o mesmo e envergou o seu mais belo traje, deitando-se ao lado do seu bem amado marido. Quando este exalou o seu último suspiro, ela fechou os seus olhos e sentiu o seu coração a bater cada vez mais devagar, até se aquietar totalmente.

sábado, fevereiro 14, 2009

Histórias da terra e do mar


Sabes? o meu amor é uma pessoa especial.

Percorreu um longo caminho até eu o conhecer e fez-se devagarinho e com esmero. Camada após camada, depositou-se cada partícula do seu ser. O meu amor aprendeu muito e é agora um ser pleno de sabedoria metamorfizada.

Domina várias artes e conhece bem as pessoas. Sabe que tudo tem o seu tempo e que há coisas que demoram bem mais que uma vida humana. No entanto, o meu amor perdeu algo precioso pelo caminho - a capacidade de acreditar no amor. Eu sei que ele já teve esta espécie de fé, mas perdeu-a, ou foi-lhe violentamente arrancada.

Por ele eu sou as ondas que batem, uma e outra vez, numa arriba costeira, tentando derrubar e soltar fragmentos de rocha, tentando levar, até àquele idílico recanto, alguma areia e formar (quem sabe? talvez um dia...) uma praia.

É que sabes? O meu amor nunca me disse uma palavra bonita, nunca me sussurrou ao ouvido o que sentia por mim. De vez em quando ele deixa que uma gaivota pouse num dos seus galhos secos, que a espuma de uma das minhas ondas roce ao de leve a sua rocha, e que a humidade que transporto lhe dê reflexos mais vivos. Mas só.

No outro dia percebi que se preocupou quando a maré não acompanhou a fase da lua, mas é tudo. Sabes, por acaso, como poderei fazer com que ele acredite na felicidade que o amor encerra? Dizer-lhe muitas vezes que o amo, sugeres tu? Mas acaso não o digo já. Em todas as minhas ondas, em todo o percurso que elas fazem, a todos os barcos que cruzam as minhas águas, Todos sabem e todos me perguntam: Como está o teu amor?

Todos sabem que cada tempestade que me assola corresponde a um momento de desespero meu por conseguir tão pouco dele e que cada raio de sol se refere a um qualquer gesto dele que eu interpretei como um sinal de amor para comigo.

De qualquer forma toda a gente sabe que só encontro serenidade quando ele deixa que alguma água das minhas ondas fique presa nas reentrâncias das suas rochas no vazar da maré. Aí aqueço um pouco e sinto que também ele fica mais doce. É uma espécie de abraço, não percebes?
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