quinta-feira, agosto 24, 2006

o chuveiro

De manhã quando acordo faço uma de duas coisas: comer ou tomar banho. Normalmente, em dias de trabalho, tomo duche primeiro. Preciso dele para acordar verdadeiramente. Fica tudo mais rápido depois desse duche, o qual não dispenso dia nenhum do ano, nem quando estou doente.Só depois o pequeno-almoço, também essencial antes de sair de casa. Posso não ter tempo para secar o cabelo, fazer a cama ou escolher a roupa. A maior parte das vezes não me maquilho por falta de tempo (ficar envolvida nos lençóis é tão mais sedutor). Mas para tomar banho e comer de manhã...
Nos dias em que não trabalho a ordem das coisas pode alterar-se e, sobretudo, arrastar-se por toda a manhã. Arrasto-me de um lado para o outro e, enquanto não me despachar com estas duas tarefas essenciais, tudo o resto fica em stand-by. No entanto, o estranho de tudo não é o quando tu decides tomar banho, não é também se vais ou não tomar banho. É apenas o como tomas banho. Isto porque descobri recentemente que nem toda a gente toma banho como nos filmes, ou toma duche como nas novelas. Isto é, há quem não mergulhe na água escaldante e plena de espuma fofa que enche uma banheira ou se coloque de pé debaixo de dezenas de mini-jactos de água que se escapam de um chuveiro. E como o fazem então? De mil e uma formas. Em conversa com amigos descobri que eu era pouco criativa no que toca a actividades de higiene. Não só sou convencional em todas elas como faço pouco uso de "instrumentos" que a maioria considera imprescindíveis como, por exemplo, o célebre e famigerado bidé. Coisas tão simples como a posição do chuveiro no suporte de parede variam de casa para casa. Há quem o coloque acima do nível da cabeça (a minha solução suposta invariável), mas muitos consideram que uma posição ao nível dos olhos será mais vantajosa (?) ou até abaixo do nível dos joelhos. Já agora há quem nem sequer tenha o referido suporte! É por estas e por outras revelações igualmente surpreendentes que eu, por vezes, descubro em mim um desejo voyeurista de surpreender todos os outros na sua intimidade. Como é que tomas banho/duche? De joelhos! Mas porquê? Porque tens medo de cair? Não achas isso estranho? Serei eu que, nunca tendo pensado nisso, me limitei a fazer como sempre vi na televisão? Oh meu Deus! Tenho toda uma tarefa experimental agendada para amanhã. Serei capaz de dar uma nota de originalidade numa actividade que sempre julguei ser apenas uma necessidade, ainda que bem prazeirosa?

paredes de coura 2006


Pois é! Apanharam-me de novo num festival de três dias. As razões deste regresso à rota festivaleira prende-se sobretudo com o excelente cartaz deste ano e com os amigos. Terça-feira o gang do algarve estava na estrada rumo ao festival. Apanharam-me no Porto e seguimos pela A4. Montar tenda foi um instante, embora tenha havido quem a montasse em apenas dois segundos - a maior inovação tecnológica depois do sacaricas!
Prometeram chuva e tivemos uma inundação. Foi ver o pessoal todo de galochas e oleados verdes, qual bando de extraterrestres ou membros de uma seita secreta. O Minho ficou mais verde do que nunca!
Os dois primeiros dias foram excelentes no que se refere a concertos destacando como preferências especiais Broken Social Scene, Yeah yeah yeahs e Bloc Party. No terceiro dia !!! (Chk Chk Chk) salvaram o festival que padeceu um pouco sob a égide dos anos 80. E se o piso inclinado e as pesadas galochas não convidavam à dança, a música essa levava-nos a viajar para além das pesadas nuvens cinzentas e a resgatar o sol.
O passeio não ficou por aí, pois decidimos vir pelo norte abaixo e conhecer melhor algumas cidades como Ponte de Lima, Viana do Castelo, Guimarães, Póvoa do Varzim, Vila do Conde e o Porto. Terminamos em Aveiro onde reencontramos parte do grupo e fizemos uma grande despedida.

Para ver mais fotos abri conta no flickr em www.flickr.com/photos/sandragavinhos/. Não estão lá todas porque infelizmente atingi rapidamente o limite do mês. Tenho de arranjar outro site de alojamento. Alguém tem uma sugestão?

sábado, agosto 12, 2006

momentos especiais



Esta semana, apesar de calma em muitos sentidos, teve grandes momentos. Um deles foi quando comprei a minha nova máquina digital. Ainda estou em fase experimental mas tenho-me divertido imenso, clicando aqui e ali. Com calma e serenidade vou descobrindo o que ela pode ou não fazer. E, sobretudo, estou a aprender muito sobre mim, pois tenho que saber o que me faz ter vontade de clicar, o que eu acho que vale a pena guardar na memória visual da minha máquina. E o que vale a pena? Bem, para além de mim própria, pois sou narcisista q. b. e, além disso, tenho consciência da degradação do corpo orgânico e reconheço que quero recordar-me jovem, fascinam-me os reflexos, a luz, a cor e a geometria (sobretudo elipses e cornucópias). Tenho ainda vergonha de tirar fotos a outros, pois parece-me um roubo, mas apetece, nem que seja às escondidas.
Ao mesmo tempo, ando a dedicar-me às piratarias. Pois. Já vou tarde, bem sei. Mas que querem? ainda agora comecei mas já tenho uma lista bem jeitosa. Mp3 claro! Tantos e só me apetece baixar mais e mais. Ponho no meu leitor de mp3 e não me canso. Adoro passear ao fim da tarde (quando o calor já não atormenta tanto) e ouvir a minha música pelas ruas. Fogem-me sorrisos de felicidade que reencontro noutras pessoas que por mim passam. Baixar música é um sucesso porque sobretudo exige interacção. Chamamos "nossa" a essa música surripiada porque fomos nós quem a procurou, descobriu e passou para o nosso computador. Aí ela passa a pertencer-nos.
Ainda, um outro momento especial foi quando criei uma estação de rádio no Yahoo, onde posso ouvir música que eu vou seleccionando. Será que o mundo sabe a felicidade que a internet pode proporcionar? Eu ainda estou a descobrir e sinto-me a flutuar num mundo que tem tanto de virtual como de real.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Chuva de cinza

Hoje acordei cedo. Fui fazer análises ao sangue.Ao sair de casa deparei com o meu carro coberto de cinza e esta continuava a cair do céu. Senti-me no meio de um ambiente de catástrofe. Perto de um vulcão, por exemplo. Não era a primeira vez que chovia cinza sobre a minha cabeça. Mas senti-me triste pois sabia que eram folhas, ramos e troncos de seres vivos cremados que sentia a flutuar à minha volta. Fechei os olhos e, em oração resumida, pedi que parasse de chover. Isto foi às oito da manhã. São onze e meia e, embora o céu já não enviasse aquela nuvem laranja, a minha varanda branca continua pintalgada de negro, com os restos mortais desses outrora verdejantes seres. O mundo tem tantas cores para quê reduzi-lo a uma só?

domingo, agosto 06, 2006

Sei de mim

Hoje estou aqui só para dizer que estou. De partida ou de chegada, na transitoriedade da vida (facto que não me cansa de surpreender) hoje estou aqui. E que esse aqui pouco ou nada interessa. Valem as pessoas e o que sinto sobretudo. E não falo de corpos nem de matéria se bem que é ela quem suporta e permite tudo. Falo de existências, de agentes com vida que interagem e criam algo em cada interacção. Daí a comunicação ser algo de tão supremo e importante. Existimos porque sabem os outros que sim, e porque o comunicamos a todos e a nós próprios. Pelos nossos sentidos, pelo nosso sentir.
A aceitação desta existência transitória e da pouca ou nenhuma importância do local em que ocorre é uma pequena maravilha de sabedoria. Minoriza o efeito dos locais que não nos dizem nada ou mesmo desagradam, e relembra que por muito mau que algo seja não dura sempre. E se for algo de muito bom e porque não se mantém eternamente, deve ser aproveitado como se fosse acabar no instante seguinte.
De uma cabeça como a minha que não pára de pensar, até nos momentos mais intensos e profundos, de alguém que não esquece o corpo nem os lugares, segue o desejo de ser menos assim. Almejar por ser menos presa ao físico e ambicionar viver mais o que não se vê ou percepciona pelos clássicos cinco sentidos sempre foi algo que o Homem tentou alcançar. Será tal possível? Eis um compromisso que fica: o de viver mais de acordo com o preceito de viver com a alma e o coração e menos com o corpo. Talvez assim saiba mais de mim.
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